Obrigatório por lei em todo o país e regulamentada pela norma NBR 5419 – Proteção de estruturas contra descargas atmosféricas e de aterramento elétrico, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), a instalação de para-raios no topo dos prédios tem o propósito de evitar que descargas elétricas atmosféricas (raio), que pode chegar a uma temperatura de 30 mil graus Celsius, cinco vezes mais elevada que a da superfície do sol, danifique a estrutura do edifício queimando equipamentos e podendo, inclusive, causar mortes.Entenda nessa reportagem como efetuar a manutenção dos para-raios.
A primavera e o verão, estações mais quentes do ano, são o período onde se registra a maior incidência de descargas elétricas no país. Cerca de 90%, ou 50 milhões de raios que caem no Brasil são registrados nesse período. Somente entre os anos 2000 a 2014, segundo o Grupo de Eletricidade Atmosférica (Elat), vinculado ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), 1.790 pessoas morreram em decorrência de descargas elétricas. A cada 50 mortes por raio no mundo, uma acontece no Brasil.
Com toda essa incidência de raios a presença do para-raios nas edificações se torna indispensável. E a primeira parte do projeto é o desenho do sistema efetuado por um profissional especializado. Para Ricardo Blauth, engenheiro da NGLED, “uma equipe competente projeta o sistema, faz os desenhos técnicos, mas a construtora ou o executante não cumpre o projeto deixando diversos problemas para os futuros usuários da edificação”. Segundo ele, o mais comum é que as hastes não sejam instaladas. “Um caso recente em um grande condomínio aqui em Curitiba foi que das mais de 40 hastes de aterramento, havia apenas três instaladas”.
Apesar de existir uma Norma nacional em comum (NBR 5419), alguns estados possuem legislação própria. Como São Paulo, onde a lei obriga que qualquer edifício com mais de um andar possua um para-raios. Já nos estados do Rio de Janeiro e Santa Catarina, a legislação é mais branda. Enquanto que na “cidade maravilhosa” a lei obriga que somente os prédios com mais de 30 metros possuam o equipamento, na “Ilha da Magia” é obrigatório que toda ocupação residencial privativa multifamiliar, com 20 metros ou mais de altura, ou que possua área construída superior a 750m² seja equipado com o Sistema de Proteção contra Descargas Atmosféricas (SPDA). Em Curitiba, a Comissão de Segurança e Edificações (Cosedi), órgão da prefeitura responsável por fiscalizar itens de segurança em condomínios faz vistorias periodicamente.
Desde 2015 a NBR5419 foi atualizada. Nesta edição, revisada e atualizada, uma das novidades é a necessidade de se fazer uma vistoria visual do equipamento a cada seis meses, além no número de descidas que conduzem a energia elétrica para as áreas mais baixas do edifício. Antes dessa atualização a recomendação era para que estivessem a cada 20 metros. Agora a recomendação passou a ser que sejam instaladas a cada 15 metros.
Atualmente os para-raios usados com mais frequências nos condomínios são o Franklin e o Melsen ou gaiola de Faraday.
O para-raios tipo Franklin é o mais usado por ter uma eficácia em cerca de 90% dos casos. Composto por uma haste metálica, captores e um cabo de condução responsável por levar a energia elétrica até o solo.
Já o para-raios tipo Melsen é composto de seis partes principais: captor do tipo terminal aéreo, cabo de cobre, suporte isoladores, tubo de proteção, malha de aterramento e conector de medição. Nesse sistema o prédio é envolvido por uma armadura e uma malha de fios metálicos. Enquanto as hastes tem a função de captar as descargas, a armadura metálica é responsável pelo sistema de condução da energia.
Em prédios com mais de 20 metros de altura, os especialistas são unanimes em recomendar os dois modelos.
Não contar com um bom sistema de SPDA torna o condomínio vulnerável a sistemas de descargas elétricas. Veja abaixo o que pode acontecer caso o seu condomínio não possua um para-raios:
Queima de equipamentos eletrônicos: tanto os componentes eletrônicos do condomínio como sistemas de segurança, portões eletrônicos e as placas de comando dos elevadores, quanto os equipamentos dentro das residências, ligado nas tomadas na hora da descarga, podem sofrer com descargas elétricas.
Danos à estrutura do edifício: uma descarga elétrica pode chegar a incríveis 100 milhões de volts. Toda essa força, se ocorrida próxima ao edifício, sem um isolamento correto, poderia, sem dúvida, danificar a estrutura física do prédio.
Risco de morte: em um período de forte tempestade com incidência de raios, se o morador ou o funcionário estiver desprotegido, existe a possibilidade que ele seja atingido por uma descarga elétrica direta ou indiretamente – quando a corrente elétrica é descarregada no solo – e venha a falecer.
Problemas com o seguro: Caso fique comprovado que o SPDA está fora dos parâmetros legais, a seguradora pode se negar a pagar a indenização ao condomínio.
Já que estamos no inverno – época de estiagem – aproveite para efetuar a manutenção dos para-raios em seu condomínio. É somente após a vistoria e adequações que o condomínio recebe atestado de responsabilidade técnica (ART) assinado pelo engenheiro. Confira como proceder em caso de manutenção do equipamento:
Periodicidade: depois de instalado de acordo com a NBR 5419, o para-raios deve ser vistoriado, por empresa especializada, semestralmente. Na visita o engenheiro irá realizar uma medição ôhmica (resistência de aterramento) para avaliar se a descarga está ocorrendo corretamente.
Mastro: é onde se instala a luz do piloto cuja função é o de identificar a altura do prédio. É preciso ficar atento se ela não está queimada.
Caixa d’ água e antenas de TV por satélite: é necessário que esteja aterrada, pois é um ótimo condutor de eletricidade. As antenas de TV por satélite, já que são fixadas nos pontos mais altos dos edifícios, também precisam estar aterradas.
Cabos e captores: também deverão passar por limpeza e troca em caso de oxidação ou quebra.
Em caso de incidência de raio: verificado que o sistema passou por uma descarga elétrica é necessário uma nova vistoria. Independentemente do tempo da última manutenção.